domingo, 17 de julho de 2011

Ser, estar, permanecer, ficar. Em que verbo você está?



                                                        



Por força de algumas reflexões sobre as relações entre as pessoas acabei me lembrando dos verbos de ligação, mais especialmente os citados no título desse artigo - ser, estar, permanecer e ficar. Sem a intenção de abordá-los no sentido lingüístico, onde usualmente são explorados, fiquei a brincar, tentando emprestá-los para pensar um pouco sobre os diversos 
níveis nos quais as pessoas assentam suas relações amorosas e afetivas.


Ultimamente ouvimos muito que Fulano "ficou" com Siclana, seja numa balada, ou numa festinha qualquer. Quando, numa conversa com jovens, queremos conhecer melhor o que isso quer dizer, acabamos colhendo certas informações.

Ficar significa encontrar alguém, conhecido ou desconhecido, e passar com ele alguns minutos, horas ou poucos dias, num clima de intimidade, onde a principal carícia é o beijo. O que interessa nesse momento é a curtição, o prazer imediato, sem qualquer promessa de compromisso. Aliás, esse é o ponto mais importante: a ausência de compromisso. Ficar, então, é um estado leve, com pouca consistência, devido à liberdade que ele assegura aos ficantes.

Alguns aspectos podemos levantar aqui. Para ficar, você não precisa ser, nem permanecer, só estar. De pouco vale se você se chama Maria ou João, porque muitas vezes seu nome não será perguntado. O jovem sai da "ficada" só com a marca quantitativa da conquista. É mais um, ou uma, para se somar à lista de conquistas que serão, mais tarde, anunciadas para toda a galera. "Fiquei com quatro, ontem", "E eu que beijei seis!", e assim por diante. Quantas Marias e quantos Joões se conheceu, não importa. Desse estado de ligação, o que resta é a quantidade. Talvez nem o prazer de beijar seja o mais importante e sim o ato de contar, depois, a alguém. 

A arrogância é ponto alto: "Olha como eu sou bom!".
Isso me lembra aquela piadinha que o sujeito vai parar numa ilha com uma atriz maravilhosae depois de um tempo de affair entre os dois, o homem propõe que a atriz faça de conta que é um outro homem. O sujeito então se aproxima e diz para o "outro": "Você não sabe com quem eu fiquei numa ilha! Com a Fulana de Tal!". Isso tudo pra contar sobre a façanha. O que importa aqui não é a Fulana e sim a necessidade de se afirmar diante do outro e de quebra provocar uma invejazinha.

Estamos em tempos em que se propaga na mídia a rapidez, o consumo, o imediato, operfeito, etc. Quem nada nesse rio, segue essa correnteza. Não há tempo para pensar, para sentir, aprofundar. Não combina. E o que fica disso, a longo prazo, é o vazio, a solidão e a perda de si mesmo, o que é o pior.
O que posso saber sobre a Maria e o João me preenche de idéias, de sentimentos, de informações, de conhecimento.
Sem isso não há encontro. Se não há encontro não há experiência viva. Se não há experiência viva, não há existência. Se não há existência...

Autor

Dra. Élide Camargo SignorelliDra. Élide Camargo Signorelli

Psicóloga com formação psicanalítica pelo Centro de Psicanálise de Campinas (C.P.CAMP) e especialização em adolescência pelo Departamento de Psiquiatria da F.C.M. da Unicamp
Site: Beleza etstetica

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